É possível ser mulher e viajar sozinha
Esse texto começa com uma afirmação: é sim, possível ser mulher e viajar sozinha. E se você é mulher e ensaia uma trip solo, leia mais uma vez: é possível ser mulher e viajar sozinha. Eu insisto. E insisto tanto porque sei que, muitas de nós, fomos ensinadas ao contrário.
Agora deixa eu te contar o que aconteceu comigo. Eu já era nômade há quase um ano antes de viajar sozinha pela primeira vez, no estilo mochilão. Era uma época difícil. Havia recém rompido um relacionamento catastrófico e passado por meses de pandemia isolada e sozinha na minha cidade de origem. Nas sombras das minhas dores eu tive a consciência de que precisava me mover. E, diferente das outras vezes, onde planejava cada passo da trip em casal, tudo o que eu mais queria naquele momento era soltar e deixar fluir. Me propus a fazer um exercício: ir com passagem de ida, mas sem volta. E assim organizei o meu destino inicial, sem planejar nada mais. Deixaria os próximos destinos virem com a oportunidade. Eu sabia que precisava confiar mais no fluxo da vida e permiti me abrir para isso. E queria um destino alegre, festivo e vivo: Bahia.
Quando eu contei minha ideia para as pessoas do meu convívio, ouvi todo tipo de conselho: “amiga, leva uma faca junto”, “cuidado, Bahia é muito perigosa para as mulheres, é uma sociedade muito machista”, “não pega uber, nem aceita caronas”. Ouvi também: “filha, como tu não sabe quando volta?” e olhares decepcionados, apreensivos, inseguros. E por um breve momento eu titubeei. Por um momento eu fiquei apreensiva, insegura e acreditei que talvez não fosse mesmo uma boa ideia.
Foi num processo terapêutico lindo que consegui olhar com carinho para esses sentimentos e separar o que era meu do que não era. Definitivamente, o medo e a insegurança não tinham nada a ver com a minha motivação e força de viver algo novo e cheio de possibilidades incríveis. Agradeci o zelo e segui com fé.
Obviamente que alguns cuidados fazem parte da auto responsabilidade física: compartilhar localização com alguém de confiança; adquirir passagens e hospedagens com empresas confiáveis ou pessoas com boa classificação; cuidados com bebidas; evitar andar sozinha à noite e, principalmente: ficar atenta a sua intuição e à sua energia. E se você não sabe como funciona isso, com certeza vai aprender no processo.
Aprender, aliás, é palavra-chave para essa experiência. Viaje sozinha e nunca mais será a mesma. Viaje sozinha e descubra que nunca estará sozinha. Você vai conhecer tantas pessoas, homens e mulheres de todas as idades, jeitos e nacionalidades, viajantes solos ou não, que o sentimento de solidão será inexistente. Eu garanto. É só você ir com o coração aberto. E você vai, com elas, conhecer histórias que te trarão lágrimas, sorrisos, encantamento e pura felicidade. Em apenas um dia você fará amigos que parecem de uma vida e será acolhida pelo conforto dos abraços mais sinceros. Você viverá de forma tão intensa que provavelmente será a primeira vez em muito tempo em que se sentirá tão VIVA.
Quer dizer que tudo é lindo e não vai ter perrengue? Não. Quero dizer que tudo fica lindo quando você perceber que consegue contornar os perrengues e aprender com eles. Se você me perguntar se tudo deu certo eu responderei: tive reservas canceladas, voluntariados estranhos, percursos intermináveis, mochila pesada demais, gastos imprevistos, fiquei doente duas vezes e acredito firmemente que tudo deu certo. Foi um mochilão de três meses que valeram por 3 anos, tamanha a transformação que me causou. Reconhecer-me assim, tão forte, destemida e dançando com a fluidez da vida me fez ter ainda mais certeza de que para nós, mulheres, exatamente tudo é possível.
3 Comments
Eu tive o prazer de te conhecer nessa viagem transformadora, além de várias outras mulheres, e isso que você falou ficou muito nítido, é possível ser mulher e viajar sozinha. Nós podemos provar isso! ❤
Linda! E eu sempre lembro de você e da sua vibe. Muita admiração!
Viajar sozinha é vida!