Um Cachorro pra Viagem
Animais de estimação estão cada vez mais inseridos em nossas vidas, e na vida de um packer, não poderia ser diferente. Conheça os ônus e bônus de viajar com um cão, e saiba como prepará-lo para viajar com você.
Você sabia que ao longo dos anos de convivência com os humanos, os cachorros desenvolveram mais de 100 músculos faciais que lhes permitem se expressar? Cientistas acreditam que essa evolução se deu pela necessidade de estarem com os humanos.
Eu não tenho dúvidas disso. Viajo com minha cachorra, e conheci muitos mochileiros que também tinham a nobre companhia de um cão. Mas infelizmente, poucos são os que sabem realmente prover uma vida saudável e confortável aos seus animais viajantes.
Tanto por eles quanto pelos anfitriões, os animais nômades têm que ser preparados para isso. Mesmo por que, a natureza de um cão não é nômade. Eles gostam de rotina, de conhecer bem seu lar, ter controle sobre seu território. E sabemos que isso é algo que não temos muito em nossas vidas de viajante.
Então, antes de eu sair de viagem, eu estudei muito, conversei com adestradores e veterinários e me dediquei para que minha cachorra não sofresse nessa nova vida e ainda fosse bem aceita sem causar problemas nos anfitriões.
Nesta matéria vou listar pra você que quer viajar com seu cão, os principais pontos para que a viagem seja prazeirosa pra você, para ele e para os anfitriões:
Saúde antes de tudo!
O mais importante vem primeiro, então a primeira dica é que antes de tudo, dê uma passadinha no veterinário. Faça um checkup em seu amigo. Veja se está tudo certo com ele para pegar a estrada.
Além disso, atualize as vacinas (a entrada em alguns lugares exigem carteira de vacinação completa e atualizada), vermífugos e dê um antiparasitário oral. Existem várias marcas no mercado. É um pouco caro, mas garante que seu amigo não vai pegar carrapatos, pulgas e consequentes doenças durante os passeios.
Castrá-los também pode ser uma boa ideia.
Seu cão é um cão!
Nada de filhinho ou bebezinho. A primeira coisa que você deve se convencer é que seu cão não é humano. Tudo bem que você o ame como um ser humano, um filho ou bebezinho. Mas não o trate como um, pois ele é um cão e precisa ser tratado como um cão para ser mais feliz.
Você vai entender melhor o porque ao ler as outras dicas.
Seja o líder.
Você não deve ver seu cão como humano, mas ele te vê como um cão! Então, pense que vocês são uma ‘matilha’, e toda matilha deve ter um líder.
No caso de ser um viajante nômade, hospedado cada hora em um lugar diferente, um novo território, é muito importante que você seja o líder. Você manda nessa relação e isso dará segurança para seu cão pois ao sair de viagem, ele não vai entender muito bem o que está rolando.
Mantenha o máximo da rotina
Acredite: Seu cão está se sacrificando para viajar com você. Por mais divertida que seja a viagem para ele, ele preferiria estar em seu território, sua casa, com seus brinquedos, seu local de dormir e tudo mais.
Então, faça um mínimo de sacrifício pra lhe prover o que ele pode ter de sua rotina original. Separe um lugar na mala para algum de seus brinquedinhos preferidos, além de um pano que ele identifique como lugar de dormir. Leve o mesmo pratinho de comida e água.
Tudo o que for similar à sua vida anterior, vai lhe trazer conforto. Inclusive a rotina de horários: Acordar, comer, passear, descansar. Tente cumprir os mesmos horários da rotina anterior. E se não havia uma rotina certa, pense em criar uma agora.
Inclusive, inclua nessa rotina as necessidades fisiológicas, observando o horário que ele costuma fazê-las. Com essa rotina, acredite, ele vai segurar um pouco a onda pois saberá que vai sair logo mais, e você não terá que limpar cocôs indesejados no lugar errado.
Dê segurança e evite o medo.
Fora de seu território natural, será comum seu cão ficar um pouco mais excitado ou nervoso, e qualquer ser estranho, desde outros animais até outras pessoas, podem parecer um risco, e se ele for o líder da matilha, ele vai querer te proteger. Vai latir, rosnar, correr, avançar e até morder pra cumprir com êxito sua ‘obrigação’ de líder.
Então, você precisa mostrar pra ele que está tudo bem, que é você quem protege ele e não o contrário. Você precisa ser firme nos comandos e ao mesmo tempo mostrar que ele está em segurança junto de você.
Isso fará com que ele fique mais a vontade e assim se sociabilizará mais com todos os outros humanos e animais.
Se expresse com gestos e tons
Lembre-se que seu cão desenvolveu 100 músculos pra se comunicar com você. Não pense que ele entende o que você está falando (se não ele teria aprendido a falar também). Por isso, quando for se comunicar com ele, seja enfático em gestos e expressões.
Não adianta, por exemplo, falar pra ele parar de latir para outro cão, com voz de bonzinho: “quietinho, Thor, ele é amiguinho“… O cachorro ouvirá como um carinho, ou seja, uma recompensa por estar latindo e ‘lhe protegendo’ do inimigo.
Seja enfático, fale com tom forte, mas cuidado para não parecer um “ataque, Thor“. O tom forte deve passar segurança e não ordem.
Quando o cão entender que você não precisa de proteção perto de outras pessoas ou animais, ele ficará próximo de você e não vai brigar com nenhum outro animal, nem mesmo com gatos.
Deixe claro recompensas e castigos.
Pelo mesmo princípio citado na dica anterior, você deve prestar atenção em como fala ou age mediante alguma ação de seu cão. As vezes a bronca verbal pode parecer um incentivo e o cão vai te desobedecer pois não estará entendendo corretamente.
Por exemplo, se o seu cachorro fugir e você sair correndo atrás gritando seu nome desesperadamente, o que você diz “volta aqui, Thor“, ele vai perceber como “vamos lá, Thor, estou correndo contigo“.
Até mesmo tapinhas podem soar como brincadeira e não castigo. Uma dica é repreende-los com cutucões na lateral das costelas. Não sei por que, mas cachorros odeiam isso e sabem na hora que fizeram algo errado, mesmo que nunca tenham recebido um cutucão antes. Dê um cutucão em um cão quando ele fizer algo errado, e ele nunca mais fará (se fizer, dê um novo cutucão, até ele assimilar a ação com o toque desagradável).
Sua casa, suas regras
Quando você for abrir uma aplicação de voluntariado, deixe bem claro que você viaja com seu cachorro e respeite as regras do lugar.
Talvez as opções se reduzam um pouco pois muitos lugares não aceitam pets, mas chegar de surpresa com o cão não é uma opção. Acredite, você achará outros lugares que aceitam e ainda pode haver o diálogo e a negociação.
Compreenda que hotéis, pousadas, hostels possuem uma logística e manutenção, e um estabelecimento petfriendly pode trazer alguns trabalhos a mais, então entenda isso quando for negociar sua estadia com seu cão, assuma todos os ônus que seu pet trará e aceite o ‘não’ com um sorriso no rosto e muita empatia.
Pontos turísticos.
Também haverá impedimentos em lugares que você quiser visitar. Muitos parques, pontos turísticos e eventos não aceitam animais. Tenha isso em mente e lembre-se do pequeno sacrifício em troca de um grande sacrifício que seu cão faz para lhe acompanhar.
Se houver algum lugar que você queira muito ir, procure conciliar a visita a esse lugar com algo que seu cão possa se ocupar. Um banho num petshop por exemplo. Enquanto ele toma banho, você passeia.
Ou ainda, procure por cuidadores de cães locais. Existe inclusive um app que mostra pessoas disponíveis em cuidar de cães na redondeza, tipo um AirBnB pra cachorros.
E lembre-se, viajar com um amigo desses é muito bom. A lealdade desses bichos triplica o prazer da viagem. Além de ajudar a fazer amigos e criar situações deliciosas.
Faça o que tem que ser feito, sem preguiça, sem medo e sem dó, e você e seu bichinho terão uma experiência incrível.